O dia 8 de março celebra o Dia Internacional da Mulher, data dedicada também à comemoração de profissionais que vêm fazendo história em setores que sempre foram ocupados majoritariamente por homens. Em 2019, a consultoria McKinsey analisou dados de 250 companhias e concluiu que as empresas com uma parcela significativa de líderes femininas têm desempenho melhor que suas concorrentes. Para Fernanda Delgado, diretora executiva corporativa do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), o estudo mostra a necessidade de ampliar a presença das mulheres na indústria de óleo e gás, principalmente em cargos de chefia.
No IBP, as mulheres já respondem por 60% de todo o quadro de funcionários, mesma proporção de mulheres em cargos de liderança. A diretora acredita que o setor tem buscado ampliar a presença feminina nas empresas e, com isso, reverter estatísticas ainda desfavoráveis. “No instituto, uma série de projetos é desenvolvida nesse sentido, como o Programa de Mentoria de Liderança Feminina na Indústria de O&G, replicado por algumas companhias. Nesse programa, mulheres identificadas com habilidades gerenciais pelas empresas são conectadas com importantes executivos e executivas do setor”, comentou para a Portos e Navios.
A Ocyan é um dos participantes no programa e atualmente, um terço dos cargos de liderança da companhia são de mulheres, tanto onshore como embarcadas nas plataformas, sondas e navios de produção (offshore). A engenheira Ana Paula Santana, assistente de gerente de plataforma da sonda de perfuração ODN II vem estimulando a atração de mais mulheres ao liderar o Grupo de Afinidade Equidade de Gênero da Ocyan. “Temos buscado promover e garantir equidade de gênero, igualdade de oportunidades e o bem-estar de mulheres que trabalham ou desejam expandir suas carreiras nos segmentos offshore”, disse Ana Paula.
Amanda Barbosa, gerente de operações da nova plataforma em etapa final de construção, o FPSO Anita Garibaldi, lidera hoje uma equipe de 150 pessoas, sendo 75% masculina, na MODEC. Para Amanda, as mulheres ocupam hoje espaços onde antes não eram reconhecidas e mesmo longe da igualdade, há uma curva de evolução. “O principal desafio para o setor offshore não é apenas enaltecer quem quebra as barreiras e ocupa uma posição de destaque, mas o de enxergar a mulher dentro de uma linha de sucessão, como profissional e não um gênero. São revoluções diárias que fazemos, são portas que abrimos a outras mulheres e vidas que inspiramos”, relatou.
A operadora de produção da Modec, Lisy Magalhães, relembra que há alguns anos as mulheres do setor enfrentavam até mesmo dificuldades básicas. “Não era comum as plataformas terem banheiro e vestiário feminino, porque não era esperado uma mulher ocupar esse lugar. Hoje, é uma alegria andar no navio e encontrar tantas outras e é nessa luta diária que estamos revertendo o cenário e conseguimos mudar a história”, destacou.
Para Maisa Resende, Head de RH e Comunicação no Gás Natural Açu (GNA), o setor de energia ainda é um ambiente majoritariamente masculino e a indústria de gás, como um todo, também precisa abraçar a causa da diversidade. “Desde o início de nossas atividades, desenvolvemos ações que visam ampliar e incentivar a diversidade e a equidade de oportunidades no mercado de trabalho. Sabemos que ainda há um longo caminho a ser percorrido para alcançarmos a equidade de oportunidades e reconhecimento entre homens e mulheres. Mas estamos no caminho!”, afirmou.
A GNA possui uma equipe composta por 50% de mulheres, sendo 33% do time feminino ocupando cargos de liderança. De acordo com Maisa, a companhia vem desenvolvendo uma série de ações para fomentar a diversidade e inclusão em seu ambiente de trabalho, bem como nas comunidades em sua área de atuação no norte do estado do Rio de Janeiro.
“Por exemplo, temos o Programa de Mentoria, Empreendedorismo e o Programa de Qualificação Profissional, que já transformou a vida de inúmeras mulheres das comunidades”, comentou Maisa. Iniciada em outubro de 2022, a segunda edição destinou 25% das 448 vagas oferecidas nos cursos de solda, elétrica, mecânica e logística às mulheres. No entanto, o número de inscrições femininas foi de 41%, o dobro do registrado na 1ª edição, possibilitando a formação de duas turmas exclusivamente de mulheres.
De acordo com a engenheira Fernanda Araújo, especialista naval na GNA, este segmento tem conseguido promover a inclusão feminina. Para ela, é na faculdade que a mulher aprende a desenvolver características essenciais como resiliência, autonomia e humildade. “Minha ascensão profissional aconteceu por uma combinação de fatores: parte foi por esforço próprio e a outra foi oportunidade. Tive a oportunidade de trabalhar desde cedo com lideranças que souberam reconhecer meu esforço e forneceram o suporte necessário para que eu desenvolvesse a confiança em meu próprio trabalho. Nunca faltaram bons mentores na minha carreira e saber que não estou sozinha faz muita diferença”, celebrou.
No terminal privado da DP World, em Santos, há integrantes fazendo história na área portuária. Paula Bispo de Santana é apontada como a única operadora de costado do Porto de Santos e também a primeira trabalhadora vinculada na função, cujo posto foi majoritariamente ocupado por homens ao longo dos anos. Fabiana do Nascimento Almeida é a primeira e única operadora de portêiner e, desde 2012, atua no terminal. Em 2023, a DP World celebrou o aumento em 10% da participação das mulheres em suas operações, em relação ao início do ano anterior, contabilizando atualmente 219 mulheres.
Stephanie Amaral, gerente de novos negócios da LOTS Group Latin America, acredita que as empresas vêm evoluindo e buscando incluir mais mulheres em cargos de liderança. “De forma geral eu vejo que hoje as empresas do setor já estão com um pensamento diferente na questão de gênero, é algo que está mudando e provavelmente teremos cada vez mais mulheres na logística em diferentes cargos, mas ainda temos muito a evoluir”, comentou.
A gerente conta já ter tido sua capacidade questionada por causa do seu gênero e acredita que isso é herdado pela falsa ideia de que carrinho e o caminhão são brinquedos ‘de meninos’. “É um preconceito estrutural da nossa sociedade, mas isso nunca me amedrontou e nem me diminuiu. Hoje em dia, por diversas vezes, eu sou a única mulher em uma reunião, porém sou eu que lidero a reunião e isso me encoraja muito a encarar de frente o assunto. Precisamos trazer à mesa todos os dias!”, afirmou.
A LOTS tem trabalhado em iniciativas para a inclusão de gênero em todas as posições na empresa. Como meta, até 2025, a empresa pretende dobrar o número de mulheres e dobrar o número de mulheres em cargos de liderança. Na matriz e em todas as operações pelo Brasil e Chile há mulheres em cargos de liderança, além da implementação do programa ‘Elas no Volante’, que capacita e contrata mulheres motoristas com ou sem experiência.
Fonte: Portos e Navios
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 08/03/2023